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A modernização do Candomblé

A modernização do Candomblé

Felizmente para uns e infelizmente para outros o Candomblé está se modernizando, e não podemos ignorar um fato verídico. Mas, o que modernizar no Candomblé ? Fazer como algumas casas que usam apenas sete dias para iniciação de um Iyawò ? Criar regras para facilitar o dia-a-dia em uma casa de santo ? Essas e muitas outras perguntas ficam martelando dentro da cabeça dos adeptos do Candomblé.

O Candomblé assim como toda religião é uma ponte de ligação do ser humano com Deus, Olorun, Nzambi, Mawù, seja qual for o nome utilizado, o que importa é que estamos constantemente procurando o caminho certo que nos leva a alguma força superior, para que nos tornemos hoje um ser humano melhor que fomos ontem, e quando Ikú (Morte) chegar sejamos um ser humano melhor do que quando chegamos ao Aiyè (Terra). Essa ponte de ligação deve algo sólido e com bases imutáveis. Tudo na vida deve seguir a modernização mundial, porém em hipótese alguma deve abalar as estruturas, e assim é o Candomblé. Sem sombra de dúvidas o Candomblé precisa se modernizar, mas não mexer em suas estruturas, como: O respeito ao grau de um Egbomy que não é igual ao de um Iyawò, os bichos de fundamento, a seriedade para realização de oròs para os filhos de santo, a realização de bolonan para Ogans e Ekedjís apontados e mais uma série de coisas. Estes são os tipos de coisas que nunca podem ser modificados dentro de uma casa de Asé, e, no entanto, é o que mais vem sendo modificado. Há alguns anos um fato que jamais acontecia era Ogans e Ekedjís incorporarem depois de confirmado, isso não acontecia porque somente quem tinha direito a ter Ogans e Ekedjís eram pessoas com mais de sete anos, e com obrigações pagas, hoje a cada esquina tem um Ogan/Ekedjí que incorporou depois de confirmados e na maioria dos casos foram apontados ou suspensos por santos de Iyawò. Depois que inventaram a campanha de somos todos iguais dentro do Candomblé que a bagunça apareceu, depois que se tornar Sacerdote ficou fácil o Candomblé deixou de ser aquela religião maravilhosa de pessoas sérias com o trabalho para os Òrísàs. Não somos todos iguais dentro do Candomblé, cada um tem seu cargo, cada um tem seu grau que deve ser respeitado, um Iyawó não é igual a um Egbomy. Para que não haja essa inversão de valores cada um deve ser chamado pelo seu cargo, assim ninguém vai esquecer, se é Ogan deve ser chamado de Ogan, se é Ekedjí deve ser chamada Ekedjí, se é Egbomy deve ser chamado de Pai ou mãe, se é Iyawò deve ser chamado de Iyawò, agora, as pessoas ficam com receio de chamar um Iyawò de Iyawò e ele se ofender, mas não tem que se ofender é o cargo que compete a ele no momento. De um tempo para cá inventaram a tal da obrigação intermediária de três anos, aonde dão mão de jogo a Iyawò, Iyawò inicia pessoa, abre casa, tudo porque tomou obrigação de três anos, se estão tendo tantas permissões para que os Iyawò vão tomar obrigação de sete anos? É bom lembrar as pessoas que, um Iyawò que toma sua obrigação de três anos NÃO muda em nada, ele continua Iyawò. Infelizmente o Candomblé vem se modernizando da forma errada, está se transformando em agência de viagem, aonde vemos anúncios desta natureza: “Trago a pessoa amada em 3 horas”, está se transformando em doceria, aonde vemos anúncios como: “Compre o chiclete da paixão”, e ainda está se transformando em lanchonete, aonde você pode chegar e tomar um belo “Milk shake do amor”. Essas transformações resultam em “Sacerdotes de Candomblé” estampados em jornais nas páginas policiais, sendo presos como charlatões, resultam em igrejas lotadas, resultam no crescimento de ateus e assim por diante.

A modernização é necessária sim, porém tudo em excesso pode se transformar em veneno, e é isso que infelizmente está acontecendo em nossa religião. Vamos modernizar nossos pensamentos, mudar a ideia de que o Candomblé é a religião da humildade, vamos criar sim belos palácios para nossos Òrísàs e acabar com a ideia de que o Candomblé deve ser chão batido e casas escondidas por dentro dos matagais, enquanto o nosso pensamento é humildade, as igrejas universais estão construindo enormes palácios. Vamos modernizar nossas roupas, sair do morim, enfim, o externo de Asé que deve ser modernizado na medida certo, mas o interno deve ser imutável.

Huntó Douglas D' Odé